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Setembro Amarelo: falar sobre suicídio é preciso

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10/09/2021
8 min. de leitura

Pouco se fala sobre suicídio, mas ele continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, revelam estimativas recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2019, segundo a OMS, mais de 700 mil pessoas morreram em decorrência de suicídio, o que representa uma em cada 100 mortes. A organização afirma que, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV ou homicídio, por exemplo. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os casos de suicídio passam de 13 mil ao ano, podendo ser bem maiores em decorrência das subnotificações. E, durante a pandemia de Covid-19, houve um maior agravamento dos transtornos mentais.

Mas, apesar dos números alarmantes, por que ainda assim a palavra “suicídio” carrega um peso tão difícil de ser discutido pela sociedade? O tema, que trata-se de uma questão de saúde pública, ainda é tratado como um tabu, sofrendo com a falta de investimentos em estudos, campanhas e estratégias de prevenção ao suicídio. E quando um assunto não é amplamente discutido por todos, pouco se sabe e pouco se compreende sobre ele.

“Precisamos trabalhar mais com a divulgação de serviços gratuitos e com a atenção à saúde mental, que a própria rede pública não dá a devida atenção”, aponta a psicóloga clínica Samantha Dubugras Sá, doutora em psicologia, diretora interdisciplinar do Instituto Proteger e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Para ela, o assunto ainda é um tabu por tudo que cerca o comportamento suicida e pelo medo que as pessoas têm de falar sobre. Porém, segundo a psicóloga, falar é a questão-chave.

“Poder falar sobre o suicídio é justamente para poder psicoeducar a população em geral sobre como manejar a situação. Ou seja, falar em suicídio não leva as pessoas a se matarem, pelo contrário, abre um espaço de escuta para que as pessoas possam falar sobre pensamentos suicidas. É trabalhar com prevenção”, afirma.

No entanto, segundo a psicóloga, para acolher alguém que está precisando de ajuda, é preciso se atentar a quatro passos essenciais:

1) É preciso identificar e estar atento aos possíveis sinais que a pessoa possa dar;

2) Avaliar a gravidade da situação;

3) Escutar, acolher sem julgamentos;

4) Ajudar a pessoa a buscar um acompanhamento psicológico.

Entender os sinais é preciso

De acordo com Samantha, é possível que os sinais sejam percebidos principalmente por pessoas mais próximas, como familiares e amigos. Ela destaca que é sempre importante estar atento a mudanças de comportamento, atitudes e rotina, que não são habituais da pessoa e possam indicar que algo não vai bem, como isolamento, mudanças de humor, frases como “queria estar morto” e apatia.

No entanto, nem sempre os sinais podem estar presentes. Por isso, além disso, a psicóloga ressalta que, por mais simples que pareça, sempre perguntar como a pessoa está se sentindo pode ajudar a dar espaço para que ela se abra e se sinta confortável para falar sobre seus sentimentos.

“Acho que o diálogo [com os filhos] é muito importante, mas também é algo a ser construído com os pais desde sempre. É importante também entender e deixar claro, principalmente para as crianças e os adolescentes que ainda estão em formação, que nem sempre vamos estar legais e está tudo bem. Faz parte ter dias mais tristes ou mais alegres”.

Ainda é preciso saber diferenciar o sentimento de tristeza da depressão. A tristeza, que é um dos principais sintomas associados à depressão, segundo a psicóloga,  compreende duas questões: a depressão sem tristeza, onde vemos mais a apatia ou o vazio; e a tristeza, que é um sentimento como a alegria e tantos outros.

“A tristeza tem nome, a depressão não. Ou seja, a pessoa está chateada ou triste por algum motivo que ela sabe dizer. É uma reação a uma situação que causa tristeza. É como o luto, eu fico triste e choro porque eu perdi alguém. Agora, a depressão é mais difusa, no sentido em que a pessoa se sente triste e não sabe dizer muito bem o porquê. É algo que vai se acumulando e ela pode ficar desanimada, sem vontade de fazer as coisas”.

Além do mais, Samantha explica que a depressão abrange um conjunto de sintomas, que incluem alterações de sono e apetite, ganho ou perda de peso sem intenção e de forma acelerada, por exemplo. “Em se tratar de depressão, a pessoa não se deprime de um dia para o outro. É um processo e por isso passa muitas vezes despercebido, porque como é mais lento, os sintomas vão surgindo, vão se acumulando e daqui a pouco o desânimo toma conta”, alerta.

Setembro Amarelo, sinais

Fatores de risco

Na cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), existem dois fatores de risco principais para o suicídio:

  • Tentativa prévia de suicídio: este é o fator preditivo isolado mais importante. Indivíduos que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente.
  • Doença mental: quase todas as pessoas suicidas tinham uma doença mental, muitas vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada.

Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem: depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/dependência de outras drogas e transtornos de personalidade e esquizofrenia. A cartilha aponta que pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco.  “Depressão, ansiedade e alcoolismo são três transtornos mentais muito relacionados ao comportamento suicida. A OMS estima que 97% das pessoas que cometeram suicídio tinham um transtorno mental”, afirma a professora de psicologia da PUCRS.

Ela ainda enfatiza que é importante distinguir fatores que predispõem, o que são fatores de risco para uma depressão ou para um comportamento suicida, e os precipitadores, que são os gatilhos. Samantha explica que se uma pessoa já vinha em sofrimento, tentativas prévias, histórico familiar de depressão, ideias de morte, e acontece alguma situação mais impactante que a leva a cometer o ato, é caracterizado como um fator precipitador.

“Os gatilhos todos nós podemos vivenciar. Por exemplo, se uma pessoa vem relativamente bem, uma demissão não vai precipitar um ato suicida, porque ela não tem os fatores de risco”, comenta. “Agora, se a pessoa já tem crise de ansiedade, faz uso abusivo de álcool e drogas, tem histórico de perdas, a crise está se instalando e daqui a pouco tem uma gota d'água que talvez seja o limite em que a pessoa não suporta mais, e talvez ela não tenha conseguido buscar ajuda.  E isso se associa também à questão das redes sociais, que muitas vezes precipita o ato”, completa.

Sinal de alerta entre os jovens e as redes sociais

O suicídio entre jovens está, cada vez mais, chamando a atenção de entidades de saúde. A OMS revela que entre os jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte, ficando atrás apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.

De acordo com a cartilha da ABP e do CFM, os comportamentos suicidas entre os jovens e os adolescentes estão associados a motivações complexas, o que inclui humor depressivo, abuso de substâncias como álcool e drogas, problemas emocionais, familiares e sociais, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência, além de abuso físico e sexual na infância.

Atualmente, as redes sociais desempenham um papel de influência na vida dos jovens, que, muitas vezes, pode ser prejudicial à saúde mental. Para a psicóloga, o problema se concentra em como os jovens fazem uso das redes sociais, que, em muitos casos, causam sofrimento emocional e abalo psicológico, em decorrência à exposição frequente e à necessidade de aprovação. “Isso já vem sendo um culto à felicidade, que é ficar nas redes e ter uma percepção equivocada [de vida], que parece que está todo mundo bem e todo mundo feliz, onde só eu que não estou. É importante as pessoas se conscientizarem e, quem sabe, mostrarem a vida como ela é, sem filtros. Parece que a felicidade depende dos likes”, explica.

Além disso, a psicóloga atenta para uma situação que está se tornando cada vez mais recorrente: usuários de redes sociais, que não possuem qualquer preparo, estão oferecendo apoio para quem tem pensamentos suicidas. A diretora interdisciplinar do Instituto Proteger esclarece que, por mais que a intenção seja ajudar, é preciso preparo para manejar a situação. “Para se oferecer dessa forma, é preciso ter um treinamento e preparo, porque pode ser difícil até para a pessoa que está se oferecendo”, alerta.

“Uma coisa é uma pessoa próxima a ti que venha falar em ideias de morte, que está triste ou deprimido e poder acolher e ouvir, sem julgamento, e poder auxiliar essa pessoa a buscar ajuda especializada. Outra é disponibilizar as redes sociais para qualquer pessoa para falar sobre suicídio, por mais que seja bem intencionado não é tão simples”, esclarece Samantha.

Onde buscar ajuda

Procurar ajuda ou ajudar alguém a procurar, é um passo de suma importância, uma vez que grande parte dos transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, podem ser tratados com a psicoterapia e medicamentos, que devem ser sempre assistidos por um profissional. No Brasil, existem inúmeros locais de atendimento psicológico e psiquiátrico gratuitos ou que atendem pessoas com baixa renda. Abaixo, você encontra alguns deles:

CVV - Centro de Valorização da Vida: atendimento 24 horas pelo telefone 188 ou via chat e e-mail. Para saber mais, acesse o site cvv.org.br.

Rede de Atenção Psicossocial (Raps): disponibilizado pelo Ministério da Saúde, Raps é  um serviço de saúde aberto e comunitário constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental. Clicando aqui, você encontra um mapa para verificar a rede de atendimento mais próxima de você.

Instituições com consultas a baixo custo em Porto Alegre:

  • Fundação Universitária Mário Martins: (51) 3333-3266 e (51) 98585-0120 
  • ITIPOA Psicanálise e Criatividade: (51) 3311-3008 e (51) 99926-2936 
  • Instituto Cyro Martins: (51) 3338-6041 e (51) 99805-5808
  • Sigmund Freud Associação Psicanalítica: (51) 99627-9382
  • Centro de Estudos Atendimento e Pesquisa da Infância e da Adolescência (Ceapia): (51) 3343-6490
  • Contemporâneo: Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade: WhatsApp (51) 98275-0189
  • Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (Cefi): (51) 99420-7006
  • Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre: (54) 98416-6397
  • Instituto Wilfred Bion: (51) 3319-7665 e (51) 99172-7977 

Universidades

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul: a Clínica de Atendimento Psicológico é um serviço-escola do Instituto de Psicologia da UFRGS. Maiores informações através do telefone, (51) 3308 2024, e-mail clinicap@ufrgs.br ou acesse ufrgs.br/clinica.

PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul: disponibiliza o Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (SAPP). Informações e marcação de consultas devem ser feitas através do telefone: Telefone: (51) 3320.3561.

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Fonte: Infohealth

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